Na semana retrasada postei um look básico para friozinho, mas o que mais repercutiu no post não foi o look, e sim o fato de eu ter comprado uma bota número 35, calçando 37,
só porque ela estava na liquidação. Me perguntaram se meus pés não ficavam apertados, se eu não morria caminhando, mas, por incrível que pareça:
não, ela é superconfortável! O pior é que eu tive sorte mesmo, porque o couro cedeu, mas esse tipo de sorte nem sempre acontece.
No ímpeto por um precinho camarada, muitas vezes a gente acaba considerando muito mais o preço do que a peça em si e comprando coisas absolutamente inúteis, desnecessárias, sem qualidade (ou tudo junto), só porque elas estavam baratas demais.
A Lais, minha grande amiga de fé, irmã camarada e futura historiadora da arte, divide comigo não somente as coisas boas da vida (a beatlemania, as limonadas no Largo da Carioca, os e-mails quilométricos e os fantasmas do Theatro Municipal), mas também a tendência bizarra de fazer compras esdrúxulas. E, claro, depois correr pro MSN e contar uma pra outra. Eu pedi que ela falasse sobre algumas burradas, e ela escreveu um depoimento sobre duas situações no mínimo jocosas.
Quando o assunto é moda sofro de duas enfermidades irmãs. Falta-me paciência, sobra-me pão-durice. E é quase sempre assim que cometo uma burrada. Araras lotadas me dão taquicardia, afinal, como olhar aquele mundo de opções uma por uma e no fim perceber que talvez nenhuma te agrade? No meio de tanta gente fashion e descolada, a busca por aquela calça jeans reta, sem nada, pode se tornar uma via sacra.
No topo do pódio de minhas compras burras está uma sapatilha dourada da Soulier. Explico: eu procurava por uma bege, mas depois de duas horas procurando por todas as lojas do Shopping Tijuca, a falta de paciência me traiu com um "ah, nem brilha tanto assim". É claro que só usei uma vez, no ano novo, crente que ela me traria ao menos prosperidade para comprar outra. Essa nem foto tem, acabei dando mesmo.
No ano passado fiz uma limpa em meu armário, e a quantidade de blusinhas de R$1,99 a R$ 9,99 com estampas ridículas que não foram usadas sequer pra dormir tamanha era vergonha de mim mesma em vesti-las era algo impressionante. Também foram destinadas ao saco de doações algumas blusas até bonitinhas, porém compradas com a intenção de serem usadas após a perda de dez ou quinze quilos, outras com as mesmas características mas do tamanho EXG que nunca foram apertadas e algumas outras peças simplesmente sem explicação.
Felizmente o desapego é algo que habita o meu ser, e já consegui me desfazer de grande parte dessas coisas. No entanto, descobri alguns itens que ainda subsistem sob meu teto.
A bolsa foi comprada no Calçadão de Campo Grande por R$19,90, só porque custava R$19,90, em um momento de total insanidade. Não usei nenhuma vez na vida; ia doar, minha mãe pegou no ímpeto e também nunca usou. Uma das bolsas mais feias que já vi na minha vida. Pra acompanhar, coincidentemente no mesmo ano achei na C&A uma sandália que até nem é tão feia, mas que comprei sabendo que nunca usaria devido ao imenso salto e à incompatibilidade total com o meu estilo, e o fiz apenas pela remarcação em sua etiqueta: R$9,90. Foi usada apenas uma vez, no primeiro dia de aula do terceiro semestre, quando entrei na PUC com a sandália e saí de lá descalça.
E o que dizer, por exemplo, do meu sonho de ter um
trench coat? Com o salário do CNPq, em 2007 fui à Voluntas e comprei um genérico por R$29,90. Tecido vagabundo, corte malfeito, sem mais palavras:
Outra coisa que a gente aprende com a vida é que, não é porque você foi a um seminário bacana, em que conseguiu assistir às palestras até o fim sem dormir, que você vai comprar uma camiseta de malha do tal evento, por mais baratinha que ela esteja. A não ser que seja pra dormir ou se for pra ajudar o pessoal da organização. Porque, cá entre nós, moça nenhuma vai sair com uma blusa destas:
Geralmente as comprinhas em que a gente se fode bonito são feitas na pressa, por não se ter pensado mais de uma vez, por impulso mesmo. Compras maravilhosas podem ser garantidas a preços mais maravilhosos ainda, mas paciência e disposição são totalmente necessárias - ou sorte, vá lá. Eis algumas dicas para que não caiamos na armadilha de comprar tudo o que aparece à nossa frente sob o argumento de um preço baixo:
1 - Pegue a peça, mas continue caminhando pela loja, olhando outras e considerando a probabilidade de encontrar uma mais legal ainda;
2 - Imagine se aquela roupa que lhe assola o coração consegue fazer PELO MENOS três combinações com outras peças que você tem em casa, senão o risco de usá-la só pra dormir ou de ter de comprar outras roupas pra combinar com ela é grande;
3 - Leve a peça para o provador. Se aquela roupa não deixar você, uma árdua trabalhadora brasileira, no mínimo
linda,
maravilhosa,
absoluta, ela não merece ser levada;
4 - Se a roupa tiver um tamanho menor do que o seu, sejamos realistas: você
NÃO vai emagrecer só por causa dela;
5 - Pense em todas as ciladas compulsivas consumistas em que você já se meteu e se lembre das roupas sem utilidade em casa.
Mas, como já foi dito, tudo pode ser também uma questão de sorte. Quem garante isso é a própria Lais:
Prova de que nem sempre ser sovina é mal negócio é um vestido que comprei na Renner. Um daqueles de 100 pratas, que a gente pega pra "dar uma olhadinha". Qual foi minha surpresa ao constatar a etiqueta de R$19,90? Tá certo que ele era PP, mas coube direitinho. Aliás, eu poderia levá-lo só para provar que um dia coube em um Pequeno P. E como este era meu dia de sorte, saí da Renner levando duas blusas e um vestido por 40 pilas. Na hora de bater, a caixa constatou que ele saía por R$9,90. Claro que depois eu arranquei todas as etiquetas promocionais para ver o preço original. Pasmem: R$109,00 e uma infinidade de etiquetas sobrepostas. 109,00 por 89,90... 89,90 por 69,90... 69,90 por 49,90... 49,90 por 39,90 e, por fim, 39,90 por 19,90. No fim das contas acho que eles me pagariam para levar o vestido, mas vai... É bonitinho.